Texto de Bárbara Ximenes Braz
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Podemos destacar como fatos marcantes na infância de Jung a suposta insanidade de sua família materna e sua negação do Complexo de Édipo, ao achar que sua mãe era gorda e pouco atraente, o que o levou a rejeitar a teoria de Freud futuramente. Devido a diversos sonhos durante sua vida, como um em que estava em uma caverna e outro em que cavava a terra, Jung decidiu voltar suas reflexões para o interior, trabalho esse que resultou em sua autobiografia “Memórias, Sonhos e Reflexões”. Semelhantemente a Freud, sua teoria da personalidade era intensamente autobiográfica. Jung ingressou na Universidade de Basel e viu na psiquiatria a oportunidade de trabalhar com os sonhos, o sobrenatural e o oculto. Em 1900, trabalhou num hospital psiquiátrico em Zurique, dirigido por Eugen Bleuler, criador do termo esquizofrenia. Jung considerava Freud uma figura paterna, porém, ao contrário do que Freud esperava, Jung não era um discípulo que não criticava. Quando ele começou a expressar esses conceitos, a separação tornou-se inevitável. Eles romperam o relacionamento em 1913. Aos 38 anos, Jung passou por um episódio neurótico em que achava que ia perder o contato com a realidade e pensou em suicídio, superando o problema por meio da exploração dos seus sonhos e fantasias. Do seu confronto com o inconsciente, elaborou sua teoria da personalidade, em que a fase mais importante do desenvolvimento seria a meia-idade, época em que teve sua crise.
Diferentemente de Freud, Jung apresentava uma vida sexual vigorosa, com uma série de casos extraconjugais, e foi justamente quanto à libido um dos pontos de discordância entre os dois. Jung considerava a libido de duas formas: uma energia de vida ampla e generalizada e uma forma restrita de energia psíquica que alimenta a psique. Jung utilizou a física para explicar o funcionamento da energia psíquica, propondo 3 princípios:
Todo desejo ou sensação tem seu oposto, e o conflito entre tendências ou processos opostos é necessário para a geração de energia psíquica.
Há redistribuição continuada energia dentro de uma personalidade.
Uniformização de diferenças de energia. Há uma tendência ao equilíbrio dentro da personalidade.
Nossa consciência de nós mesmos, responsável pela execução das atividades normais, agindo de maneira seletiva.
Extroversão: orientação para o mundo exterior e outras pessoas. Pessoas abertas, sociáveis e socialmente assertivas.
Introversão: orientação para idéias e sensações da própria pessoa. Pessoas tímidas.
Funções racionais: envolvem julgar e avaliar nossas experiências. Pensamento(Verdadeiro ou falso) e Sentimento(gostar ou não).
Funções não racionais: não utilizam a razão, constatam experiências e não as avaliam. Sensação(reproduz uma experiência) e Intuição(palpite).
8 tipos de personalidade com base nas interações entre as 2 atitudes e as 4 funções.
Semelhante ao conceito de pré-consciente de Freud, é o reservatório de material que já foi consciente, mas que foi reprimido ou esquecido.
Centro ou padrão de emoções, lembranças, percepções e desejos no inconsciente pessoal organizados em torno de um tema comum. (Ex.: poder.)
Nível mais profundo da psique, que contém o acúmulo de experiências herdadas de nossos antepassados. Não herdamos as experiências diretamente, mas o potencial para elas. Essa predisposição se tornar ou não realidade depende das experiências vividas por cada um de nós.
Imagens primordiais, temas ou padrões recorrentes contidos no inconsciente coletivo. (Ex.: mãe, criança, Deus, herói, morte, poder, velho sábio, etc.) Entre os arquétipos mais conhecidos estão:
Persona: rosto ou papel público que a pessoa apresenta para ou outros.
Anima e Animus: aspectos do sexo oposto na psique do indivíduo. Baseia-se na teoria de que todos os humanos são essencialmente bissexuais.
Sombra: lado obscuro da personalidade, instintos animais básicos e primitivos. Representa também a vitalidade, espontaneidade, criatividade e emoção. É papel do ego balanceá-lo.
Self: unidade, integração e harmonia da personalidade total. É a meta primordial da vida e sua realização total encontra-se no futuro e na percepção das próprias habilidades. Começa a emergir na meia-idade. Neste arquétipo, o self, que é o centro da personalidade, deve deslocar-se do ego para um ponto de equilíbrio entre consciente e inconsciente, que passa a ter, portanto, maior influência sobre a personalidade.
Infância: a personalidade é um mero reflexo dos pais. O ego só começa a desenvolver-se quando a criança diferencia-se dos outros e consegue dizer “eu”.
Puberdade: nascimento psíquico.
Adolescência até início da idade adulta: atividades preparatórias para as demandas da realidade, foco externo e predominância do consciente.
Meia-idade: o foco da personalidade muda de externo para interno. Início do processo de realização ou atualização do self. Se formos bem-sucedidos na integração consciente-inconsciente, estaremos em condições de atingir um estado de saúde psicológica resultante da integração de todas as facetas da personalidade, a Individuação. Fatores ambientais podem impedir a realização total do self.
A personalidade pode ser determinada pela infância e pelos arquétipos, havendo espaço também para o livre-arbítrio e a espontaneidade, representada pela sombra. Nós somos mais afetados pelas nossas experiências na meia-idade e pelas nossas esperanças para o futuro que por experiências vividas até os 5 anos de idade. Cada pessoa é única, mas somente na primeira metade da vida (até a realização do self). Apesar do otimismo básico, Jung expressou preocupação em relação a um perigo da cultura ocidental, a Doença da Dissociação, ou seja, o perigo de não apreciar as forças do inconsciente.
Teste de Associação de Palavras: técnica projetiva na qual a pessoa responde a uma palavra de estímulo com outra que lhe vier à mente imediatamente.
Análise de Sintomas: concentra-se nos sintomas relatados pelos pacientes e baseia-se nas suas livres associações para esses sintomas.
Análise dos Sonhos: interpretação de sonhos para descobrir conflitos inconscientes. Jung trabalhava com uma série de sonhos relatados por um paciente e concentrava-se no elemento original do sonho, buscando um tema.
O Indicador de Tipos Myers-Briggs: principal método de pesquisar os 8 tipos psicológicos e as 2 atitudes de Jung. O MBTI é considerado o fruto prático mais visível da obra de Jung sobre a personalidade humana.
Reconstrução do Histórico de Vida: método de estudo de caso de Jung, que envolve as experiências passadas para identificar neuroses presentes.
Tipos psicológicos: as pesquisas sobre a origem da introversão e extroversão apontam para influências genéticas e ambientais.
Sonhos: os resultados da maioria das pesquisas nessa área estavam de acordo com as previsões da teoria da personalidade de Jung.
A crise da meia-idade de mulheres: feita na faixa dos 40 anos, demonstrou que a transição da meia-idade era menos difícil para mulheres que haviam buscado ativamente uma carreira do que para aquelas que haviam se focado apenas em família e casamento. O arrependimento das suas escolhas anteriores levou a mudanças positivas na meia-idade. Mulheres foram divididas em 3 protótipos: conflitantes, tradicionais e individuadas.
As pesquisas confirmam as teorias de Jung sobre as atitudes e funções, mas os aspectos mais amplos da sua teoria não conseguiram obter validação científica. Entre suas idéias amplamente aceitas estão o Teste de associação de Palavras, Complexos, Introversão-Extroversão, Atualização do Self e a crise de meia-idade.
Fonte: Teorias da Personalidade; Schultz, Duane P. e Schultz, Sydney Ellen.