Texto de Diego Ortega dos Santos
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A diarréia pode ser definida, para fins práticos, como a perda de mais de 200 mL de água nas fezes por dia. Na imensa maioria das vezes, é fruto de patologias simples e autolimitadas, não necessitando de intervenções. Assim, seu tratamento se restringe a casos particulares e ao alívio de sintomas, tudo de forma criteriosa, como explicado abaixo.
Diarreias de início súbito precisam de atenção mais no que diz respeito à hidratação. Em pacientes debilitados, em crianças e em idosos, a re-hidratação por via oral é importante e capaz de salvar vidas. Como a captação de sódio e eletrólitos está vinculada à captação de glicose, que por sua vez capta a água para fora da luz intestinal, o uso de preparados de glicose e eletrólitos proporcionalmente a perda de liquido é bastante eficiente. Tratar farmacologicamente é uma alternativa cheia de percalços. Praticamente nenhum dos fármacos usados para reduzir os sintomas tem qualquer efeito na doença de base, sendo seu uso questionável por implicar no mascaramento da doença e, sendo a causa infecciosa, na não-expulsão do patógeno com chances de alastramento sistêmico. O tratamento ideal de diarréia se restringe, assim, à re-hidratação.
A farmacologia então é recomendada em casos excepcionais e em doenças com um caráter crônico. Uma relação sucinta desses fármacos é fornecida abaixo.
Colóides (ou polímeros hidrofílicos e pouco fermentáveis) como a carboximetilcelulose e a policarbofila sódica absorvem água e aumentam o volume fecal, sendo úteis no tratamento de diarréias de pacientes com Síndrome do Cólon Irritável (e, paradoxalmente, em prisão de ventre).
O subsalicato de bismuto é um fármaco extremamente popular e relativamente antigo. Seu mecanismo não é confirmado, mas fala-se em efeitos anti-inflamatórios, antissecretórios e até antibióticos (especificamente contra Helicobacter pylori). Não costuma ser acompanhado de nenhum efeito colateral fora o enegrecimento das fezes.
Atuam nos receptores opioides de nervos, células epiteliais e músculos entéricos. Os receptores µ atuam na motilidade intestinal. Os σ, na secreção intestinal. E os dois, na absorção. Os fármacos mais usados da classe, o difenoxilato e a loperamida, atuam mais nos µ. Em relação aos demais medicamentos opioides, esses atuam até 40 vezes mais no intestino, não atuando ou atuando pouco no SNC. Ainda assim a intoxicação é uma possibilidade, tanto no SNC quanto no sistema colinérgico, com efeitos atropina-like.
Trata-se de um fármaco com diversas utilidades. A maior é na síndrome do esvaziamento, na qual ele inibe a liberação de hormônios (liberados pela passagem do alimento ao intestino delgado), evitando desconfortos e efeitos sistêmicos. Na diarréia, todavia, tem mais utilidade diante de tumores secretores de hormônios do pâncreas e TGI, que causam diarréia secretória grave. Atua, acredita-se, inibindo a secreção de serotonina e muitos outros peptídeos do TGI.
fonte: Manual de Farmacologia e Terapêutica, Goodman & Gilman, 11 ed.