Sigmund Freud

De WikiPETia Medica

Texto de Caio Mayrink

SIGMUND FREUD


Nascido em maio de 1856, na atual República Tcheca, Freud formou-se em medicina na Universidade de Viena. A partir de observações feitas acerca de sua própria vida e de pacientes acompanhados durante sua experiência como psiquiatra, desenvolveu seu estudo sobre os problemas emocionais humanos tomando como base a sexualidade.

Tabela de conteúdo

Instintos e Libido

Instintos são as forças impulsoras da personalidade. Eles ligam as necessidades fisiológicas aos desejos da mente, criando uma expressão mental de um querer corporal. São esses impulsos que guiam as ações humanas. Existem instintos de vida e instintos de morte. Os instintos de vida são aqueles relacionados à satisfação de necessidades de comida, de água, de ar e de sexo. A libido é a energia manifestada pelos instintos de vida. Os instintos de morte estão relacionados a um desejo inconsciente de morrer e são impulsos que se dirigem à agressividade, à degeneração e à destruição. O impulso agressivo é um dos principais componentes do instinto de morte. A teoria da personalidade de Sigmund Freud baseava-se principalmente na necessidade de aliviar as tensões criadas a partir da necessidade de realizar desejos inconscientes. O que faz as pessoas tão diferentes é a forma como elas direcionam essa energia psíquica para diferentes objetos.


A Estrutura da Personalidade

Freud destrinchou a personalidade humana em três estruturas anatômicas, o id, o ego e o superego. O id é o reservatório da libido e dos instintos, guardados no profundo inconsciente. É uma estrutura egoísta, primitiva, insistente e amoral que busca satisfação instantânea seguindo o princípio do prazer. O id é provedor de energia psíquica para os outros dois componentes da personalidade. O ego é a estrutura que se relaciona com a realidade, administrando os desejos do id. Representado pela razão, ele determina como, onde e quando serão satisfeitos os desejos impulsivos e libidinosos do id. O superego é o componente moral da personalidade, sedimentado por volta dos cinco anos, ao fim da fase fálica, responsável pela repressão compulsiva dos desejos do id, inadequados à sociedade. O superego é montado a partir de mecanismos de punição e recompensa estabelecidos pelos pais à medida que o indivíduo expressa seu comportamento impulsivo.


Ansiedade

Quando o ego é excessivamente pressionado pelos componentes inconscientes (superego e id), surge a ansiedade. A ansiedade é descrita como um medo sem razão aparente, não podendo ser identificada sua fonte. Existem três tipos de ansiedade descritos por Freud.

Ansiedade frente à realidade

A ansiedade frente à realidade é o medo de perigos reais levado ao extremo. Uma pessoa que sequer consegue acender um fósforo com medo de causar um incêndio é um exemplo de ansiedade frente à realidade, pois o medo do incêndio a impede de produzir o fogo.

Ansiedade Neurótica

A ansiedade neurótica consiste em um medo inconsciente de ser punido por obedecer a um desejo do id. Ela tem base na infância e é um conflito basicamente entre o id e o ego.

Ansiedade Moral

A ansiedade moral é caracterizada pelo sentimento de vergonha ou culpa por querer atender aos desejos do id. O ansioso moral é acometido por um ataque de consciência devido a um superego muito desenvolvido que tende a causar grande angústia quando seus princípios morais impecáveis são contrariados.

A ansiedade neurótica difere da ansiedade moral pela origem da repressão ao impulso libidinoso. Enquanto a ansiedade moral apresenta uma represália pelo superego (interno), a ansiedade neurótica é caracterizada por um medo da resposta externa à realização do desejo do id – como a sociedade, a realidade reagiria à vontade inconsciente.


Estratégias de Defesa do Ego

Com a necessidade de eliminar a tensão criada pelo desejo inconsciente não efetivado, o ego desenvolve estratégias de defesa contra a ansiedade. A repressão é o mecanismo mais utilizado pelo ego. É um tipo de esquecimento inconsciente de algo que traz constrangimento ou angústia. Pode haver repressão de eventos ou pessoas do passado ou repressão da percepção do presente ou até do funcionamento fisiológico do corpo. Freud reprimiu tão fortemente seu impulso sexual, devido à aversão que ele tinha ao coito interrompido e ao uso de preservativos, que se tornou impotente aos 40 anos.

A negação é um mecanismo muito comum, onde o indivíduo nega a existência de uma ameaça externa ou nega a existência de um evento traumático.

A formação de reação é uma forma de defesa a um impulso perturbador, expressando conscientemente o oposto. Ao término de um relacionamento, muitas vezes o cônjuge rejeitado transforma ilusoriamente o amor em ódio, como forma de defesa do ego.

A projeção é a atribuição de um impulso inaceitável ou agressivo a outra pessoa. A projeção pode vir acompanhada da formação de reação. Um garoto pode afirmar que odeia seu irmão, quando na verdade ele projeta no irmão o sentimento que nutre pelo pai. O ódio sentido pelo pai nada mais é do que o amor reprimido pela sua heterossexualidade transformado ilusoriamente em ódio.

A regressão é manifestação de um comportamento infantil, como forma de fuga de uma situação estressante, voltando a um período mais confortável de sua vida psíquica.

A racionalização envolve a reinterpretação de um problema, tornando-o mais aceitável ao ego a partir de uma explicação racional. Quando um aluno recebe uma nota baixa, é menos ameaçador culpar a qualidade de ensino do professor do que a ele mesmo.

O deslocamento acontece quando o objeto que satisfaz o impulso do id não está disponível, ou é reprimido pelo superego, e é substituído por outro objeto que oferece menor ameaça, mas não traz o mesmo prazer. É freqüente chamado de “comer seus sentimentos” no caso de pessoas que deslocam suas angústias profissionais ou emocionais para a comida.

A sublimação está freqüentemente associada a manifestações artísticas e consiste no desvio da energia instintiva para uma expressão criativa.

As defesas são fundamentais para a saúde mental e quando elas falham os indivíduos são acometidos pela ansiedade. Se essas defesas persistirem falhando, pode haver o desenvolvimento de quadros de neurose ou psicose.


Fases do Desenvolvimento Humano

Freud acreditava que a personalidade passa por cinco fases em seu desenvolvimento e eventos ocorridos no seu decorrer, especialmente nas fases iniciais, seriam definitivos para o comportamento adulto. Sua teoria causou grande alvoroço ao atribuir tensões sexuais em diferentes partes do corpo desde a infância.

Fase Oral

A primeira é a fase oral e dura desde o nascimento até o segundo ano de vida. As principais fontes de prazer durante a fase oral são a sucção, a deglutição e a mordedura. Durante a fase oral, já começa a formação do complexo edipiano, quando o bebê já passa a se apaixonar pela mãe. A fase oral tem duas subdivisões, o comportamento oral incorporativo e o comportamento oral sádico. O comportamento oral incorporativo ocorre primeiramente e consiste na estimulação prazerosa da boca do indivíduo principalmente pela deglutição da comida. Pessoas com fixação na fase oral incorporativa tendem a empregar muito de si em atividades como beber, comer, fumar e beijar. Pessoas que foram excessivamente estimuladas nessa fase (personalidade oral passiva) tendem a ter um comportamento adulto otimista e dependente de outrem. A explicação é que seus desejos foram excessivamente atendidos por outros, continuam dependentes para satisfazerem suas necessidades. O comportamento oral sádico ocorre posteriormente, quando o bebê experimenta a dor do nascimento da dentadura. Indivíduos fixados nessa fase tendem a ter um comportamento agressivo, hostil, pessimista, cruel, manipulador e sarcástico. A fase oral finalmente termina com o desmame.

Fase Anal

A fase anal começa após o primeiro ano de vida, estendendo-se normalmente até o terceiro ano de vida. Nessa fase, a criança depara sua primeira grande exigência social, o hábito de higiene. A defecação é um momento de prazer erótico para a criança e a ela é imposto o adiamento desse prazer, requerido pelo id, de acordo com as exigências dos pais. A criança percebe que tem uma arma contra os pais, pois a defecação apenas depende de sua vontade. Defeitos nessa fase devido à inabilidade da criança ou a grandes exigências dos pais podem levar a características marcantes no comportamento adulto. A personalidade anal agressiva é desenvolvida por crianças que se identificam com o prazer anal da defecação e a utilizam com grande freqüência. Adultos com essa personalidade tendem a serem hostis, sádicos e agressivos. A personalidade anal retentora acontece em crianças frustradas com o treinamento do banheiro retentoras de fezes. Essa retenção promove um prazer erótico devido ao cólon cheio e ainda garante uma maior atenção dos pais empregada na criança. O adulto com essa personalidade é mesquinho, teimoso, compulsivo por limpeza e inflexível.

Fase Fálica

A fase fálica ocorre entre os três e os cinco anos de idade da criança e é caracterizada pela descoberta, pela exploração e o manuseio da genitália, tanto a própria, como a do sexo oposto. A fase fálica coincide seu fim com o fechamento do complexo de Édipo e o começo do estabelecimento do superego. O indivíduo com personalidade fálica tem comportamento narcisista, não consegue estabelecer relacionamentos heterossexuais maduros e sólidos, tende a reafirmar sua sexualidade a partir de repetidas conquistas sexuais e usa seu charme para subjugar os parceiros.

Período de Latência

Após os cinco anos, o indivíduo passa por um período de latência até a puberdade quando seus instintos sexuais serão sublimados e há grande desenvolvimento cognitivo.

Fase Genital

A última fase do desenvolvimento psicossocial é a fase genital, caracterizada pelo conflito interno entre os tabus da sociedade e a expressão sexual do indivíduo. Entretanto, essa fase geralmente apresenta menos conflitos devido aos mecanismos de defesa do ego, em especial, a sublimação desses impulsos sexuais socialmente inaceitáveis.


Abordagem Freudiana

Freud desenvolveu sua abordagem aos pacientes através de duas frentes básicas: a livre associação e a interpretação de sonhos. A livre associação baseia-se na crença freudiana de que o inconsciente é a fonte motivadora da vida. O paciente é estimulado a se expressar livremente, bem relaxado, numa espécie de devaneio em voz alta. Muitas vezes o paciente recusa-se a falar sobre algum assunto, chegando num ponto de resistência. A resistência mostra que a terapia está no caminho certo e cabe ao analista destrinchar o conflito residindo na resistência. A interpretação de sonhos freudiana ocorre de forma pontual e encontra símbolos que se repetem inconscientemente nos sonhos de várias pessoas.



Fonte: Schultz D.P e Schultz S.E - Teorias da Personalidade.

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