Texto de Everton Rodrigues
Pneumocistose
A pneumonia por Pneumocystis jiroveci ainda é a infecção oportunista que mais freqüentemente define a AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida).
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O agente etiológico é o Pneumocystis jiroveci (antigamente denominado Pneumocystis carinii), um organismo eucariótico com características morfológicas similares às dos protozoários, ou seja, presença de três fases morfológicas distintas – cistos, trofozoítas e esporozoítas. Análises do DNA mitocondrial e ribossomal indicaram uma semelhança muito grande do Pneumocystis com os fungos, porém esse patógeno não cresce em meios de cultura para fungos e nem é sensível às drogas antifúngicas.
Ainda nos primeiros anos de vida, quase todas as crianças apresentam evidências sorológicas de exposição ao Pneumocystis. Esse microrganismo pode causar sintomas subclínicos ou brandos nas vias aéreas de crianças saudáveis, mas causa doença grave apenas em indivíduos imunocomprometidos.
Embora casos esporádicos sejam a regra, foi relatada a disseminação nosocomial em grupos ou em famílias. Esses dados sugerem que o Pneumocystis jiroveci pode ser contraído por disseminação de pessoa a pessoa, motivo pelo qual algumas instituições isolam pessoas com pneumocistose de outras com alto risco de morte. Porém, ainda não há dados definitivos acerca da transmissão de pessoa a pessoa.
O início da pneumocistose em pacientes com AIDS é geralmente insidioso e marcado pela progressão arrastada (por semanas a poucos meses), com febre (38°C a 39°C), calafrios, tosse seca persistente, sudorese, mal-estar, fadiga, dispnéia aos esforços; ultimando com taquidispnéia e insuficiência respiratória. A principal manifestação é tosse seca, tipicamente não produtiva, que pode persistir por semanas, até mesmo meses. Ao exame físico de pacientes com AIDS, os achados são geralmente inespecíficos e limitados. Os achados físicos extrapulmonares podem ser úteis. A candidíase orofaríngea é quase universal em pacientes com AIDS, e a dermatite seborréica facial também é comum. A adenopatia generalizada com linfonodos maiores que 1 cm é rara, pois os pacientes com pneumocistose costumam apresentar imunodeficiência grave com linfonodos hipoplásicos.
O diagnóstico definitivo da pneumocistose é realizado através da visualização do patógeno no lavado broncoalveolar (LBA), no escarro ou em amostras de tecido. O LBA é a base do diagnóstico e regularmente apresenta sensibilidade entre 95% e 99%. É o método diagnóstico de escolha quando o exame de escarro é negativo ou não está disponível. A biópsia transbrônquica pode ser útil principalmente em pacientes onde o LBA não confirma o diagnóstico e que não respondem à terapia empírica contra o Pneumocystis ou patógenos bacterianos.
O tratamento de escolha é o sulfametoxazol-trimetroprim em altas doses por 21 dias. O uso de glicocorticóides está indicado em todos os pacientes com PaO2 < 70mmHg ou o gradiente alvéolo-arterial de oxigênio maior do que 35 mmHg, até 72h do início da terapêutica. Suporte ventilatório, hidroeletrolítico e nutricional são adjuvantes importantes na terapia.
Fontes: Cecil - 23ª edição