Avaliação clínica e complementar no diagnóstico de demência
Escrito por Caio Abner
Demência pode ser definida como uma síndrome caracterizada por declínio da memória, associada a déficit de pelo menos outra área da cognição (gnosis, praxias, linguagem ou funções executivas) com intensidade suficiente para interferir no desempenho social ou profissional do indivíduo. É importante que haja uma comparação do estado atual com a situação prévia do indivíduo, pois algumas pessoas podem sempre ter vivido com nível mais baixo em determinada função.
O diagnóstico de síndrome demencial é eminentemente clínico, contudo, a causa da demência depende de investigação complementar, constituída por exames laboratoriais e de neuroimagem.
A avaliação cognitiva inicial de indivíduos com suspeita diagnóstica de demência deve incluir testes de rastreio. Entre os testes de rastreio, O Mini-Exame de Estado Mental (MEEM ou Mini-Mental) é o mais empregado (Tabela 1). É um teste simples e de aplicação rápida (cerca de 5 a 7 minutos), com alta confiabilidade. As pontuações variam de zero a 30 pontos, e valores mais altos indicam melhor desempenho. O desempenho no Mini-Mental é influenciado pela escolaridade, dessa forma, recomenda-se notas de corte diferenciadas conforme o nível educacional (Tabela 2). A avaliação funcional em pacientes com suspeita de demência inicia-se na anamnese, investigando-se o desempenho do indivíduo em atividades da vida diária, tanto no âmbito profissional, social ou de lazer.
As doenças que podem causar demência são classificadas em dois grupos: sem e com comprometimento estrutural do sistema nervoso central (SNC).
As demências sem comprometimento do SNC são originados de causas tóxicas ou metabólicas que ocorrem secundariamente à doenças sistêmicas ou à ação de drogas. Com isso, o diagnóstico etiológico desse tipo de demência depende de exames complementares e de anamnese detalhada, sobretudo quanto ao uso pregresso de medicamentos. Os exames laboratoriais têm a finalidade de evitar que demências potencialmente reversíveis deixem de ser identificadas, por isso a lista de exames é relativamente extensa (Quadro 3).
Outro exame que pode ser usado é o eletroencefalograma, que ode ser útil no diagnóstico diferencial de demência e delirium, no diagnóstico de algumas encefalopatias metabólicas, na atividade epileptog~enica subclínica e na doença de Creutzfeldt-Jacob.
As demências secundárias decorrem de diversas condições clínicas, como doença cerebrovascular, hidrocefalia, infecções e tumores. Nesses casos, é imprescindível o uso de exames de neuroimagem.
As demências primárias ou degenerativas têm a síndrome demencial como a manifestação clínica principal. Aqui se encontra a causa mais frequente de demência, particularmente em indivíduos acima de 65 anos, que é a Doença de Alzheimer. Outras causas nesse grupo são a demência frontotemporal e a demência com corpos de Lewy.
Outro tipo de demência primária tem como característica clínica predominante a presença de sinais motores, sobretudo extrapiramidais. Nesses casos, o exame neurológico constitui a principal ferramenta diagnóstica, podendo revelar bradicinesia, rigidez, tremor, instabilidade postural ou alterações da marcha características em casos de doença de Parkinson; alteração da motricidade ocular extrínseca na paralisia supranuclear progressiva; movimentos coréicos na doença de Huntington; síndrome cerebelar nas ataxias espinocelulares, entre outros.