Síndrome Mielodisplásica

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Texto escrito por Paulo Marcelo P. Gomes de Matos


A síndrome mielodisplásica (SMD) corresponde a um grupo heterogêneo de doenças que envolvem a proliferação clonal de células-tronco primordiais da medula óssea. Essas células são capazes de se diferenciar em células sanguíneas normais, porém o fazem de modo desordenado e ineficiente. Por conta disso, sua principal característica é a hemopoese ineficaz e displásica, originando uma pancitopenia periférica com medula óssea geralmente hipercelular (em 10-15% dos casos pode ser observada uma hipocelularidade medular). Um dado preocupante é que em cerca de 30% dos casos a SMD evolui para uma leucemia, geralmente a Leucemia Mielóide Aguda (LMA), embora possam surgir outras formas da doença. A SMD pode ser de dois tipos: primária, de causa idiopática, ou secundária a exposição à quimio ou radioterapia e a fatores ambientais como benzeno.



SMD primária

A SMD primária é mais comum na população idosa acima de 70 anos, sendo muito pouco frequente em crianças e jovens. Ela pode se manifestar através de fraqueza, infecções repetidas e hemorragias, todas derivadas da pancitopenia. Entretanto, em aproximadamente metade dos casos, o diagnóstico é um achado acidental de um hemograma rotineiro. Suspeita-se que o mecanismo patogênico da SMD primária seja decorrente de exposições cumulativas a substâncias tóxicas ambientais, em indivíduos predispostos, levando à inibição da apoptose. Em uma segunda etapa, a persistência da agressão imunitária levaria a um aumento na produção de citocinas pró-apoptóticas as quais, em associação com fatores estromais e endoteliais, induziriam a hemopoese ineficaz e consequente falência medular.



SMD secundária

A SMD secundária difere da primária, pois apresenta uma história de forte exposição a agentes tóxicos (radioterapia, benzeno...), pode surgir em qualquer faixa etária, em geral manifesta-se com alterações citogenéticas e a medula óssea apresenta-se hipoplásica e fibrótica. O mecanismo patogênico é, aparentemente, bastante similar ao da SMD primária.



Quadros clínicos

A SMD primária é subdividida em cinco subtipos morfológicos. Aqueles que apresentam maior proporção de blastos associam-se a citopenias mais graves. Além disso, há um risco aumentado de desenvolvimento de LMA. Sendo assim uma proporção elevada de blastos cursa com um prognóstico mais sombrio. Outros fatores prognósticos são as citopenias graves e anormalidades cromossômicas múltiplas e são indicadores independentes de evolução desfavorável. Apesar do risco aumentado de LMA, a maioria dos pacientes vai a óbito em decorrência do déficit promovido pela pancitopenia, principalmente hemorragias (plaquetopenia) e infecções (leucopenia). A sobrevida média de um indivíduo com SMD primária varia de 9 a 29 meses. Já o paciente com a SMD secundária possui uma perspectiva pior, sendo a sobrevida média de apenas 4 a 8 meses. O tratamento para a SMD ainda é bastante limitado. Pacientes mais velhos recebem principalmente uma terapia de suporte através de antibióticos e hemotransfusões. Pessoas mais jovens estão indicadas para o transplante de medula óssea alogênica, até agora a única opção de cura. Atualmente estão começando a surgir novas opções no combate a SMD, como drogas similares à talidomida (ou a própria talidomida na falta da linalidomida) e inibidores da metilase do DNA. Esses fármacos melhoram a eficácia da hemopoese e a contagem do sangue periférico em alguns subgrupos de pacientes.



Fonte: Robbins & Cotran. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 8ed. 2010 Bogliolo. Patologia. 8ed. 2011.

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