texto de Diego Ortega dos Santos
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A angina pectoris é a dor decorrente da isquemia do miocárdio, geralmente em decorrência de coronariopatias. Assim, essencialmente, o tratamento farmacológico dessa enfermidade consiste de reduzir a necessidade do coração de trabalhar, poupando seu oxigênio . Outra linha de atuação desses fármacos, ainda que indireta, é aumentar o aporte de oxigênio para o músculo cardíaco.
A nitroglicerina é o protótipo desse grupo. Trata-se de um éster simples de ácido nítrico e nitroso de polialcoóis. A versão médica, vale dizer, não tem qualquer capacidade explosiva. Sua volatilização e adsorção fazem com que ela perca efeito com o tempo e precise ser armazenada em recipientes de vidro hermeticamente fechados. O dinitrato de isossorbida é outro exemplo dessa classe de fármacos.
O fígado possui uma potente redutase de nitratos orgânicos, tornando inútil a via oral para sua administração. Dessa forma, a via sublingual é a mais comumente usada, atingindo efeito clínico em poucos minutos, ainda que dure em média apenas de 15 a 30 minutos. Existem alguns preparados orais, entretanto, que expandem em muito tempo sua durabilidade.
Desnitrada pela glutationa S-transferase, a nitroglicerina é transformada em íon livre de nitrito, que é por fim convertido em óxido nítrico. Esse, por sua vez, é responsável direto pela vasodilatação.
Ao relaxar virtualmente todos os vasos do corpo, da artéria de grosso calibre até a veia de grosso calibre, a nitroglicerina, especialmente por conta de seu efeito venoso, aumenta a capacitância venosa e conseqüentemente diminui a pré-carga ventricular, amenizando o funcionamento do coração. Há também redução da pressão vascular pulmonar e arterial, assim como há redução do tamanho do coração. Dessa maneira, é diretamente útil na angina estável. Na angina instável também demonstra funcionalidade, ainda que não explicada (talvez seu efeito anti-agregação plaquetária controle parcialmente os trombos dessa doença). Seu efeito indireto é em função de respostas compensatórias de barorreceptores e mecanismos hormonais que, por conta da redução de pressão, geram taquicardia e aumento da contratilidade cardíaca.
Os efeitos adversos principais são decorrentes da vasodilatação: hipotensão ortostática, taquicardia e cefaléia pulsátil. Usualmente o músculo liso dos vasos adquire tolerância completa à nitroglicerina após exposição contínua.
Nesse grupo estão o nifedipino, o diltiazem, o verapamil, o nisoldipino e várias outras drogas. Seu funcionamento primordial é, enfim, bloquear os canais de cálcio . Há, entretanto, muita diferença entre eles quanto aos sítios de maior funcionamento, duração do efeito e efeitos adicionais.
São satisfatoriamente administrados por via oral. O verapamil e o diltiazem também são utilizados intravenosamente caso necessário.
No músculo cardíaco e no liso, o cálcio é essencial visto que, diferentemente do músculo esquelético, não há reservas grandes de cálcio intracelular. Assim, interferir nos canais de cálcio tipo L diminui a entrada do mineral nas células. No coração, isso diminui a contratilidade do músculo, a freqüência do marca passo do nó sinusal e a velocidade de condução do nó atrioventricular. No músculo liso em geral (o que inclui TGI, útero etc, mas com efeito bem mais acentuado em vasos), há um relaxamento.
Os vasos mais sensíveis aos bloqueadores de cálcio são as arteríolas, que apresentam um relaxamento acentuado. Assim, a pressão arterial diminui, diminuindo também a pós-carga cardíaca e aliviando o estresse do coração. Paralelamente, há uma redução global da função cardíaca propriamente dita, o que poupa o oxigênio.
O efeito tóxico mais importante dessa classe de fármacos seria a sua função exacerbada, causando parada cardíaca, por exemplo. Felizmente,isso é muito pouco observado no uso clínico.
Ainda que não atuem como vasodilatadores, eles auxiliam na diminuição das necessidades do miocárdio ao abaixar a freqüência cardíaca e a pressão sistêmica.
Fonte: Farmacologia Básica e Clínica, 10ed, Katzung et al