Texto de Davi Melo
GOTA
A gota é o distúrbio do metabolismo do ácido úrico no sangue, que se deposita em vários tecidos do organismo, tais como articulações e tendões, na forma de cristais de urato de sódio, o que provoca inflamações. Os cristais se formam quando os líquidos orgânicos desenvolvem uma alta concentração de urato de sódio que excede a solubilidade limitada do composto.
Mais de 90% dos pacientes que desenvolvem gota primária são homens, com maior incidência entre 40 e 50 anos e, principalmente em obesos com vida sedentária, usuários de bebidas alcoólicas e gasosas como a cerveja. As mulheres raramente desenvolvem gota antes da menopausa e geralmente têm mais de 60 anos de idade quando a desenvolvem. A manifestação da gota é muito rara em crianças e mulheres com menos de 30 anos.
Crises iniciais de gota podem ser precipitadas pelo abuso de alimentos ricos em purina, especialmente em combinação ao álcool. As crises também podem ser precipitadas por traumas menores, cirurgia, fadiga, estresse emocional e outros distúrbios clínicos menores, tais como uma infecção.
A gota é caracterizada, inicialmente, por ataques recorrentes de artrite aguda, provocados pela precipitação, nos espaços articulares, de cristais de urato monossódico provenientes dos fluidos corporais supersaturados. Em uma descrição clássica de crise aguda de gota, observou-se que a dor freqüentemente começa à noite e é intensa o suficiente para despertar o paciente. Embora qualquer articulação possa ser afetada, mais da metade das crises iniciais afetam o hálux (dedão), o qual é eventualmente afetado em aproximadamente 90% dos pacientes com gota.
A dor inicial de uma crise de gota tem sido descrita como uma sensação de deslocamento e é freqüentemente acompanhada por calafrios e febre. A dor torna-se progressivamente mais grave até alcançar um ponto em que o paciente não consegue sequer tolerar o toque de uma roupa ou as vibrações criadas por uma outra pessoa que entra no quarto. A crise aguda é caracterizada por insônia, incapacidade de encontrar uma posição confortável e o desenvolvimento de sinais semelhantes aos de infecção aguda, tais como tumefação rígida, brilhante e avermelhada ou arrouxeada e sinais sistêmicos de doença, tais como freqüência cardíaca rápida, mal-estar e número elevado de leucócitos, podem também ocorrer.
As crises leves geralmente desaparecem depois de um ou dois dias, enquanto as crises mais graves evoluem rapidamente para uma dor crescente em algumas horas e podem permanecer nesse nível por um a três dias antes de ceder lentamente durante uma semana ou mais. O desaparecimento completo dos sintomas pode levar várias semanas.
Os ataques dolorosos são repetidos e a situação tende a se tornar crônica, caso esse processo não seja controlado, havendo então possibilidade de deformação das articulações. A agressão constante das articulações pelos cristais de urato faz com que ocorram focos inflamatórios conhecidos como tofos. O seu surgimento ocorre após alguns anos de doença, formando-se deformidades pelo acúmulo de cristais de urato em nódulos pequenos, moles, subcutâneos, nos cotovelos, dedos ou dorso das mãos, nos pés, em qualquer outra articulação, como também tendões, na cartilagem do pavilhão auricular, membrana sinovial e osso subcondal.
Os pacientes com gota, ou excesso de ácido úrico podem evoluir para um quadro de insuficiência renal. Isto se deve ao fato de que este orgão é uma das vias de eliminação do ácido úrico. Os problemas decorrem da maior possibilidade formação de cálculos de urato, prejudicando o seu funcionamento.
Em pacientes com gota o tratamento visa a eliminar as crises agudas e a correção da hiperuricemia subjacente. O tratamento deve também ser direcionado à reversão de quaisquer complicações que tenham se desenvolvido, levando em consideração quaisquer processos patológicos coexistentes.
É necessário evitar os fatores desencadeantes ou que propiciam a formação de ácido úrico suprimido: evitar a ingestão de determinados alimentos ricos em purina, a obesidade, vida sedentária e restrição alcoólica. Além disso, um aumento na ingestão de líquidos para otimizar a taxa de fluxo urinário e uma alcalinização da urina podem também ser benéficos.
As crises agudas de gota são geralmente controladas com colchicina, AINEs ou corticosteroides injetados no espaço articular. A colchicina e os AINEs podem ser usados como tratamento profilático para prevenir crises agudas, especialmente ao instituir tratamento anti-hiperuricêmico.