Conceitos básicos de Oncologia

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texto de Diego Ortega dos Santos



Tabela de conteúdo

Introdução à Oncologia

Esse texto tem como objetivo explicar conceitos e nomes fundamentais para a compreensão básica da oncologia e de temáticas afins. Isso será feito, espera-se, trabalhando, dentre outras coisas, o binômio “maligno – benigno” e algumas nomenclaturas.


Definição de neoplasia

Neoplasia é um termo referente à proliferação anormal de células, excessiva e descoordenada, que não cessa após o término do estímulo inicial. Essa massa recebe o nome de “neoplasma” e é o equivalente exato de “tumor”, não havendo distinção entre os termos. A origem desse fenômeno é multifatorial, podendo pender mais para os fatores genéticos ou para os ambientais. Invariavelmente, o que ocorre é uma perda da capacidade celular de controlar adequadamente sua proliferação e diferenciação. Entretanto, detalhes acerca disso fogem do escopo desse texto por envolverem complexos mecanismos celulares.

Para fins tanto didáticos quanto clínicos, os tumores podem ser vistos como órgãos: possuem um parênquima, que contêm as células tumorais propriamente ditas, e um estroma, formado por vasos sanguíneos, tecido conjuntivo vário e até mesmo macrófagos e linfócitos. Enquanto o parênquima dita as conseqüências patológicas e o comportamento tumoral, seu estroma é que possibilita e determina o seu crescimento. As muitas combinações entre os dois caracterizam os tipos de tumores, abordados adiante.


Classificação das neoplasias

Tumores Benignos

São neoplasmas que costumam ficar localizados em uma única massa tumoral, não havendo a famosa metástase da qual falaremos em breve. A remoção cirúrgica garante sobrevivência para a imensa maioria dos pacientes. Quanto à nomenclatura, quando a origem das células parenquimatosas é mesenquimal (tecidos fibrosos, cartilaginosos etc), basta adicionar o sufixo “-oma” ao nome da célula tumoral (fibroma e condroma, por exemplo). Se a origem for de células epiteliais, não há um padrão perfeito, apenas algumas informações:

  • Um adenoma é um tumor proveniente de glândulas
  • O papiloma é a neoplasia que possui projeções macro ou microscópicas semelhantes a dedos (papilas)
  • Cistadenomas são os que formam massas císticas

Tumores Malignos

São aqueles que recebem a maior atenção por parte dos oncologistas por seu perigo. Não raro disseminam-se para outros órgãos e destroem tecidos adjacentes, levando ao óbito. É esse grupo de neoplasias que recebe o nome “câncer”, do latim “caranguejo”, por, reza a lenda, prender-se obstinadamente ao hospedeiro ou, dizem outros, assemelhar-se visualmente a um. Felizmente seguem uma nomenclatura mais precisa que a dos benignos. Os mesenquimais costumam ser chamado de “sarcomas”, do grego “carne”, pois não há muito estroma em sua constituição, o que lhe dá um aspecto carnoso. Retomando o exemplo, teríamos “fibrossarcoma” e “condrossarcoma”. Por fim, quando a origem é epitelial, denominam-se “carcinomas”, dotados de mais estroma e aspectos variados. É importante salientar, entretanto, que muitas vezes a origem do tumor maligno não pode ser precisada por ser composto de células pouco ou não diferenciadas. Recebe, assim, o nome de “tumor maligno indiferenciado”.

Os tumores benignos e malignos têm geralmente um parênquima proveniente de uma única célula primordial, que gerou uma série de cópias, ou clones. São, portanto, de origem monoclonal. Há, entretanto, tumores tanto malignos quanto benignos que fogem a essa regra. O tumor misto é, por exemplo, aquele com origem em uma única célula que acabou por se diferenciar no decorrer do processo de formação do neoplasma. Um exemplo clássico seria o de Wilms. Encontramos componentes variados, mas sempre provenientes da mesma camada germinativa. Os teratomas, por sua vez, são tumores aberrantes com origem em células de diferentes linhagens embrionárias, contendo tecidos tão diversos como diferenciados: encontram-se músculos, cabelos, dentes e muito mais crescendo a partir das células tumorais.


Características das neoplasias

Diferenciação

No decorrer da formação do tumor, suas células podem permanecer iguais ou não. No caso dos tumores benignos, geralmente há uma boa diferenciação que por vezes tornam a célula mutante virtualmente idêntica às células das quais provêm, tanto em forma quanto em função. As mitoses que geram essas células são lentas, esparsas e normais estruturalmente. Quando falamos de tumores malignos, todavia, não há um padrão: vão desde células perfeitamente bem diferenciadas até as completamente indiferenciadas. Quando não há diferenciação falamos em “anaplasia”, uma marca das neoplasias malignas. Nesse caso, as células guardam um “aspecto de célula-tronco”, por assim dizer, e nenhuma capacidade de assemelhar-se às células normais das quais surgiu, como fazem as dos benignos. Coroando essa diferenciação há outras características, como células de tamanhos variados, núcleos desproporcionais e mitoses desordenadas e freqüentes. Displasia e metaplasia são fenômenos celulares que podem ou não levar ao câncer. Metaplasia é a troca de um tipo de célula por outro que melhor se adapte ao ambiente. Quando determinado tecido recebe lesões constantes, é provável que “troque” as células das proximidades por outras mais resistentes, fibrosas por exemplo. Já displasia se refere ao crescimento desordenado e pouco arquitetônico de células, comumente associado à metaplasia. Caso o fator ambiental seja removido, esse processo regride. Caso contrário, pode formar-se um tumor.

Crescimento

A taxa de crescimento tumoral é de extrema importância tanto para identificar o tumor e seu tipo quanto para tratá-lo. É baseada em vários fatores, como ritmo e duração das mitoses, tempo de vida das células tumorais, fixação delas ao tumor etc. Como mencionado previamente, o estroma tumoral é quem determina isso. Se o aporte sanguíneo, por exemplo, for pequeno, as células serão incapazes de receber nutrientes para se replicar rapidamente. Ademais, quando se trata de um tumor maligno pouco diferenciado, o crescimento costuma ser mais acelerado. Tais afirmações, contudo, encontram muitas exceções. Grande parte dos agentes quimioterápicos utilizados no tratamento do câncer atuam no ciclo mitótico das células neoplásicas, interrompendo-o e as levando a apoptose. Entretanto, nem todas as células de um tumor se ocupam da sua proliferação, especialmente quando mais diferenciados: alguns grupos replicativos correspondem a apenas 5% do total de células. Nesses casos, o tratamento costuma ser precedido por algum processo (cirurgia ou radioterapia) que destrua fisicamente parte do tumor e obriguem mais células a entrarem em divisão e, conseqüentemente, ficarem sensíveis aos fármacos anticâncer

Ensaios clínicos e cálculos matemáticos provam que tumores só adquirem o aspecto sólido clinicamente perceptível quando já passaram por mais da metade do seu ciclo de vida. Assim, campanhas de prevenção e desenvolvimento de marcadores diagnósticos precoces são essenciais para identificar e combater a doença antes que ela se torne incontrolável

Invasão e Metástase

Tumores benignos geralmente são revestidos de uma cápsula fibrosa proveniente de seu próprio processo de crescimento que comprimiu células parenquimatosas circundantes. Tal estrutura o torna facilmente palpável, móvel e cirurgicamente destacável. E, principalmente, incapaz de trespassar sítios adjacentes. Não é isso que caracteriza os malignos. Eles não possuem essa estrutura e acabam por invadir, danificar e matar tecidos e órgãos nas proximidades. É isso que pode obrigar um cirurgião a amputar toda uma perna para livrar-se de um tumor que aparentemente começou no dedão do pé. É também característica exclusiva dos cânceres a metástase, processo que gera implantes tumorais descontínuos com o tumor inicial por disseminação através do sangue, linfa ou cavidades corporais. Praticamente todos os tumores malignos podem culminar em metástase, e cada um tem preferências de órgãos e tecidos para os quais migrar, mas tal conhecimento não será contemplado aqui. Por diminuir drasticamente as chances de curar o paciente, prevenir esse processo é uma das maiores conquistas dos oncologistas no decorrer do tratamento.


Bibliografia: Bases Patológicas das Doenças, 8ed, Robbins & Cotran

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