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- | Schistossoma masoni é o principal agente etiológico da esquistossomose no Brasil. Caracteristicamente se aloja nos vasos portais hepáticos, enquanto o S. hematobium se aloja nos vasos do plexo vesical, causando um quadro diferente da esquistossomose mansônica, com eliminação de ovos na urina. | + | '''Schistossoma masoni''' é o principal agente etiológico da esquistossomose no Brasil. Caracteristicamente se aloja nos vasos portais hepáticos, enquanto o S. hematobium se aloja nos vasos do plexo vesical, causando um quadro diferente da '''esquistossomose mansônica''', com eliminação de ovos na urina. |
== Ciclo de Vida == | == Ciclo de Vida == | ||
- | A transmissão se dá a parte da forma larvária caudada do esquistossomo, a cercária. Essa larva nada ativamente e penetra na pele humana, ou de outros mamíferos, atinge a circulação venosa ou linfática e se transforma, no corpo do hospedeiro, em esquistossômulo. | + | A transmissão se dá a parte da forma larvária caudada do esquistossomo, a '''cercária'''. Essa larva nada ativamente e penetra na pele humana, ou de outros mamíferos, atinge a circulação venosa ou linfática e se transforma, no corpo do hospedeiro, em '''esquistossômulo'''. |
Os esquistossômulos são carregados pela circulação até os pulmões. Duas teorias explicam como o verme chega ao espaço porta para completar sua maturação: | Os esquistossômulos são carregados pela circulação até os pulmões. Duas teorias explicam como o verme chega ao espaço porta para completar sua maturação: | ||
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- O verme passa da circulação venosa pulmonar para a arterial e se dissemina por circulação sistêmica. A partir dos vasos mesentéricos, os esquistossômulos alcançam a circulação portal. | - O verme passa da circulação venosa pulmonar para a arterial e se dissemina por circulação sistêmica. A partir dos vasos mesentéricos, os esquistossômulos alcançam a circulação portal. | ||
- | Nos vasos portais do fígado, o verme completa sua maturação e se torna esquistossomo adulto. A espécie apresenta dimorfismo sexual. Ainda no fígado, a fêmea se acompla ao macho através do canal ginecóforo e o macho carrega-os, contra a circulação sanguínea, até os vasos mesentéricos inferiores, onde ocorre o acasalamento e a postura dos ovos. | + | Nos vasos portais do fígado, o verme completa sua maturação e se torna esquistossomo adulto. A espécie apresenta '''dimorfismo sexual'''. Ainda no fígado, a fêmea se acompla ao macho através do '''canal ginecóforo''' e o macho carrega-os, contra a circulação sanguínea, até os vasos mesentéricos inferiores, onde ocorre o acasalamento e a postura dos ovos. |
- | A maioria dos ovos promove um processo inflamatório na parede externa do intestino, fragilizando-a e facilitando seu acesso à luz intestinal. Outros ovos podem ser disseminados hematogenicamente teoricamente por todo o corpo, entretanto eles tendem a se alojar nos vasos pré-sinusoidais da circulação venosa portal e nos pulmões. | + | A maioria dos ovos promove um processo inflamatório na parede externa do intestino, fragilizando-a e facilitando seu acesso à luz intestinal. Outros ovos podem ser disseminados hematogenicamente teoricamente por todo o corpo, entretanto eles tendem a se alojar nos vasos '''pré-sinusoidais''' da circulação venosa portal e nos pulmões. |
- | Os ovos despejados, através de fezes, em rios e lagoas eclodem liberando a larva ciliada (miracídio). Esse estágio larvário abriga-se no caramujo planorbídeo do gênero Biomphalaria, onde reproduzem-se assexuadamente, dando origem a milhares de cercárias. | + | Os ovos despejados, através de fezes, em rios e lagoas eclodem liberando a larva ciliada ('''miracídio'''). Esse estágio larvário abriga-se no '''caramujo planorbídeo''' do gênero Biomphalaria, onde reproduzem-se assexuadamente, dando origem a milhares de cercárias. |
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- | - A formação de granulomas no intestino baixo é a base patológica da retite esquistossomótica. | + | - A formação de granulomas no intestino baixo é a base patológica da '''retite esquistossomótica'''. |
- A formação de granulomas nos vasos portais é a base patológica da esplenomegalia por congestão, da arterialização da nutrição hepática, da formação de circulação colateral, das varizes esofágicas e da ascite. | - A formação de granulomas nos vasos portais é a base patológica da esplenomegalia por congestão, da arterialização da nutrição hepática, da formação de circulação colateral, das varizes esofágicas e da ascite. |
Texto de Caio Mayrink
ESQUISTOSSOMOSE
Tabela de conteúdo |
Schistossoma masoni é o principal agente etiológico da esquistossomose no Brasil. Caracteristicamente se aloja nos vasos portais hepáticos, enquanto o S. hematobium se aloja nos vasos do plexo vesical, causando um quadro diferente da esquistossomose mansônica, com eliminação de ovos na urina.
A transmissão se dá a parte da forma larvária caudada do esquistossomo, a cercária. Essa larva nada ativamente e penetra na pele humana, ou de outros mamíferos, atinge a circulação venosa ou linfática e se transforma, no corpo do hospedeiro, em esquistossômulo.
Os esquistossômulos são carregados pela circulação até os pulmões. Duas teorias explicam como o verme chega ao espaço porta para completar sua maturação:
- O verme escapa do parênquima pulmonar, rompe pleura parietal e pleura visceral e, por via transdiafragmática, chega ao fígado.
- O verme passa da circulação venosa pulmonar para a arterial e se dissemina por circulação sistêmica. A partir dos vasos mesentéricos, os esquistossômulos alcançam a circulação portal.
Nos vasos portais do fígado, o verme completa sua maturação e se torna esquistossomo adulto. A espécie apresenta dimorfismo sexual. Ainda no fígado, a fêmea se acompla ao macho através do canal ginecóforo e o macho carrega-os, contra a circulação sanguínea, até os vasos mesentéricos inferiores, onde ocorre o acasalamento e a postura dos ovos.
A maioria dos ovos promove um processo inflamatório na parede externa do intestino, fragilizando-a e facilitando seu acesso à luz intestinal. Outros ovos podem ser disseminados hematogenicamente teoricamente por todo o corpo, entretanto eles tendem a se alojar nos vasos pré-sinusoidais da circulação venosa portal e nos pulmões.
Os ovos despejados, através de fezes, em rios e lagoas eclodem liberando a larva ciliada (miracídio). Esse estágio larvário abriga-se no caramujo planorbídeo do gênero Biomphalaria, onde reproduzem-se assexuadamente, dando origem a milhares de cercárias.
Os ovos de esquistossomo são altamente antigênicos, portanto eles promovem a formação de granulomas aonde se alojam. Tal processo pode explicar a apresentação clínica da esquistossomose mansônica.
Inicialmente os ovos despertam resposta imunológica predominantemente TH1, com produção de TNF-α, IL-1, IL-6, IL-12, ativação de macrófagos, formação de granulomas e febre, caracterizando a infecção aguda.
À medida que o quadro se cronifica, a resposta imunológica predominante passa a ser TH2, com produção de IL-3, IL-4, IL-5, IL-13, fibrose hepática e um quadro caracteristicamente afebril.
- A formação de granulomas no intestino baixo é a base patológica da retite esquistossomótica.
- A formação de granulomas nos vasos portais é a base patológica da esplenomegalia por congestão, da arterialização da nutrição hepática, da formação de circulação colateral, das varizes esofágicas e da ascite.
- Os casos de acometimento pulmonar são mais comuns em paciente com esquistossomose hepato-esplênica, uma vez que há maior liberação de ovos na circulação colateral. Ovos formam granulomas nas arteríolas, causando hipertensão pulmonar e cor pulmonale.
- As glomerulopatias esquistossômicas estão associadas à formação de imunocomplexos, especialmente em casos de altas cargas antigênicas (alta produção de ovos). Geralmente cursam com proteinúria variável.
- Indivíduos infectados simultaneamente por HBV e por esquistossomos aparentemente apresentam um acometimento lentificado da lesão hepática viral, normalmente evadindo-se da cirrose.
Fonte: Parasitologia Uma Abordagem Clínica; Vicente Amato Neto - 2008