Em 1915, a expectativa de vida média do brasileiro não chegava aos 35 anos. Hoje, em 2015, ela já é de 75 anos para os homens e 79 para as mulheres. A verdade é que esse progresso não foi apenas nosso; o aumento foi quase geral no mundo todo. Não preciso nem dizer que essa conquista se deveu, principalmente, aos avanços da medicina e dos hábitos de higiene. Mas, a ciência também quer saber se há fatores internos governando quanto tempo podemos viver.
Até onde vai essa tendência de aumento da longevidade humana?
Será que chegaremos, em um breve futuro, a uma média de vida superior a 100 anos?
Infelizmente, parece que não. Para mostrar como isso provavelmente não será alcançado, apresento aqui um resultado publicado pelo estatístico inglês Benjamin Gompertz, em 1825. Esse resultado pode ser resumido em um gráfico que mostra, para cada idade de uma pessoa, a probabilidade dela viver mais um ano. A primeira figura mostra a curva de Gompertz para as mulheres brasileiras de hoje, que alcançaram uma expectativa de vida média de quase 80 anos. Veja, por exemplo, que uma jovem brasileira de 68 anos tem 70% de chance de fazer 69.
A pergunta, então, é a seguinte: dá para esticar essa curva para o lado direito de tal modo que a idade máxima passe dos 100 anos? Os resultados estatísticos mostram que isso talvez não seja permitido pelas leis naturais. Veja, no segundo gráfico, como a curva de Gompertz evoluiu para a população de um país europeu típico. A vida média aumenta com o passar do tempo, mas, o valor máximo teima em ficar em torno dos 100 anos.
Há quem diga que nosso organismo já vem projetado de fábrica para uma vida limitada. Você pode até escapar das doenças e de outras ameaças externas, mas carrega um inimigo interno que se manifesta depois de algumas décadas de vida. Os cientistas observaram esse mecanismo de morte programada em bactérias e acham que ele também deve existir em seres multicelulares, como nós. Afinal de contas, todas as células animais e vegetais carregam remanescentes de uma bactéria que foi incorporada no início da vida na Terra e deu origem às mitocôndrias. Portanto, é provável que o mecanismo que age nas bactérias também exista dentro de nós e estabeleça um limite natural a nossa expectativa de vida.
Bem, se não dá para viver mais que 100 anos, talvez seja possível conseguir uma maneira de escapar das mazelas da velhice, como a caduquice e a artrite, sem falar nas piores. Seria bom, para quem já está descendo a ladeira da curva de Gompertz, que nem eu, que a ciência descobrisse como viver todos esses 100 anos com saúde e lucidez.
Felizmente, parece que isso não é proibido por nenhuma lei natural. Alguns animais, principalmente pássaros marinhos, têm saúde excelente até que caem mortos de repente. Médicos que estudam essa área de sobrevivência saudável acham que existem procedimentos que possibilitam ao ser humano viver uma vida longa sem as doenças típicas da velhice. Boa parte dessas práticas está ligada à alimentação, principalmente aquelas que são conhecidas como restrição calórica.
Meu espaço acabou e deixo para outra vez um relato sobre esses avanços da gerontologia. Mas, posso recomendar, aos interessados, alguns locais na internet com informações relevantes sobre esse tema:
www.seara.ufc.br/donafifi/donafifi.htm
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2011/282/longevidade-fatos-e-ficcoes
Autor: José Evangelista de Carvalho Moreira
Coluna Aqui tem ciência – Jornal O Povo
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/colunas/aquitemciencia/2015/08/01/noticiaaquitemciencia,3477057/cem-anos-de-longevidade.shtml