Muita gente se preocupa, com razão, e trabalha para a preservação dos golfinhos e baleias. Mas outro mamífero marinho corre risco ainda maior de extinção: o peixe-boi da espécie Tricherus manatus, habitante das costas brasileiras, conhecido como manatí. Trata-se de um mamífero que chega a medir três metros e pesar mais de 500 quilos, presente desde a Flórida até o sudeste do Brasil. Esse simpático animal tem várias características que o tornam vulnerável aos perigos externos. É manso, portanto fácil de caçar.
O governo brasileiro proíbe por completo a pesca desses peixes, mas outras ameaças decorrem das contingências biológicas e dos hábitos da própria espécie. A taxa de fecundidade das fêmeas é muito baixa, sendo comuns os casos de apenas uma reprodução durante toda a vida. A gravidez dura 13 meses e a mãe costuma amamentar o filhote por cerca de dois anos ou até mais.
A fêmea do peixe-boi é uma mãe cuidadosa que ensina o filhote a nadar e a buscar alimentos, geralmente algas e capins aquáticos. Antes do parto, ela procura locais propícios para o período em que a cria ainda é muito vulnerável. Os locais preferidos são os mangues e estuários de rios, onde é bem mais fácil manter o filhote sob vigilância enquanto ele aprende os truques essenciais de sobrevivência.
É aí que a ação do homem traz as maiores ameaças. O assoreamento da foz dos rios e a proliferação de atividades turísticas (motos aquáticas, kitesurfe, pedalinhos e outros esportes de águas mansas perto das praias) dificultam a passagem e permanência da fêmea do peixe-boi , que é obrigada a dar à luz a seus filhotes em mar aberto. Nessas circunstâncias, torna-se comum o afastamento do filhote da proteção da mãe e ele acaba encalhando ou ficando preso em redes de arrasto dos pescadores.
Com o aumento dos riscos citados acima, o número de espécimes está caindo rapidamente. É provável que já não haja peixes-boi na costa do Espírito Santo, onde eram encontrados antigamente. No Ceará, eles ainda são vistos nas divisas com o Piauí e com o Rio Grande do Norte, mas a incidência de encalhes vem aumentando.
Outra espécie de mamífero marinho que ocupa os mesmos locais que o peixe-boi e também pode estar correndo risco de extinção é o boto-cinza (Sotalia guianensis), um golfinho de cerca de dois metros que costuma ser visto perto do Mucuripe.
A ONG Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), sediada em Caucaia, trabalha há vários anos na proteção desses e de outros mamíferos marinhos. É uma tarefa difícil e constante que envolve ações diversas, inclusive de educação ambiental. Em média, são resgatados com vida três filhotes de peixe-boi por ano que encalham em praias nordestinas. A Aquasis tem também vários projetos de monitoramento do boto-cinza, pois sua vulnerabilidade às ameaças causadas pela ação humana ainda é pouco documentada.
Recentemente, com patrocínio da Petrobras, foi construído um Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos no SESC Iparana. O local conta com estrutura e equipamento para a recuperação dos espécimes encalhados. No momento, dois hóspedes estão em tratamento nesse local, os peixes-boi Alva e Maceió, ambos resgatados na costa nordestina no ano passado.
As atividades da Aquasis estão descritas em sua página na Internet (www.aquasis.org) ou em (projetomanati.blogspot.com.br). Visitas de escolas podem ser programadas pelo telefone (85) 3318 4911. Mais detalhes sobre o trabalho de proteção do peixe-boi nordestino podem ser lidos no artigo da bióloga Ana Carolina Meirelles, disponível em www.seara.ufc.br/aquasis.doc.
Esse simpático animal tem várias características que o tornam vulnerável aos perigos externos.
É manso, portanto fácil de caçar
Baleia – CETÁCEOS
Exposição
Essa ossada de uma baleia cachalote de 10 metros, que encalhou em uma praia do Trairi, está exposta na Seara da Ciência com a missão de transmitir aos jovens visitantes uma noção do porte impressionante desses grandes cetáceos. Foi preparada e montada no Salão da Seara com o apoio da Aquasis e financiamento da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Trechos do processo de desenterro, limpeza dos ossos e montagem final podem ser vistos em um vídeo exibido ao lado da baleia, também disponível em (www.seara.ufc.br/baleia.wmv). A Seara da Ciência está localizada na rua Abdênago Rocha Lima, s/n, Campus do Pici. Mais informações pelo telefone (85) 3366 9245.
Autor: José Evangelista Moreira
Fonte: Jornal O Povo (http://www.opovo.com.br/app/colunas/aquitemciencia/2014/02/02/noticiaaquitemciencia,3202632/salve-o-peixe-boi.shtml)