A crescente prevalência da obesidade tornou essa condição um dos maiores problemas de saúde da atualidade. Com o passar dos anos, surgiram evidências de que redução na duração do sono pode afetar o balanço energético resultando em obesidade. Uma meta-análise feita em 2008 demonstrou que a redução de 1 hora de sono por dia está associada a um aumento de 0,35Kg/m2 no índice de massa corporal (IMC). Segundo alguns autores isso não se deve necessariamente a uma mudança hormonal, e sim a um aumento de tempo para ingestão de comida, ou seja, passando mais tempo acordado a pessoa busca mais alimento.
Apesar de ser uma justificativa plausível, existem mudanças neuroendócrinas reais com a restrição do sono. Talvez as mudanças mais importantes sejam a diminuição da produção de leptina (hormônio que diminui o apetite) e aumento da produção de grelina (hormônio que aumenta o apetite), cuja combinação leva ao aumento da vontade de comer e, consequentemente, maior ganho de peso. A restrição de sono também aumenta a atividade do sistema nervoso simpático, níveis de cortisol e hormônio do crescimento e diminui os níveis de hormônio tireoestimulante (TSH). Além dessas mudanças, o metabolismo de glicose está prejudicado nesses indivíduos com uma redução na sua efetividade e na sensibilidade a insulina. E somado a esse quadro de mudanças hormonais temos o fato de que pessoas que passam maior tempo acordadas tendem a buscar alimentos mais calóricos e de baixo valor nutricional.
Outra justificativa nessa relação sono-obesidade é o gasto energético. Pessoas que dormem pouco tendem a sentir sono e fadiga, o que os torna menos propensos a atividades físicas e mais inclinados a atividades sedentárias, por exemplo, assistir TV. Isso naturalmente leva a um menor gasto energético, favorecendo o ganho de peso.
Apesar da maior parte dos estudos serem conduzidos em adultos, dados epidemiológicos também demonstraram em populações de crianças e adolescentes a relação entre diminuição do sono e obesidade. Outros estudos ainda são necessários para investigar essa correlação em diferentes tipos de população, além da participação de outros hormônios como orexinas, resistina e GLP-1. Por fim, são necessários estudos paralelos a alternativas independentes de medicamentos para avaliar como os danos da restrição de sono podem ser prevenidos ou revertidos.
Referência bibliográfica:
ZIMBERG I.Z., DÂMASO A., RE M.D., CARNEIRO A.M., DE SÁ SOUZA H., DE LIRA F.S., TUFIK S., DE MELLO M.T. Short sleep duration and obesity: mechanisms and future perspectives. Cell Biochemistry and Function, 2012.